A ideia básica dos estilos de aprendizagem parece fazer muito sentido. Diferentes pessoas têm diferentes maneiras de aprender, então, se você ensinar de uma forma que seja consistente com o estilo do aluno, ele ou ela deve aprender melhor. Existem várias propostas ao longo dos anos, como verbalizadores vs visualizadores, ou pensadores analíticos vs não analíticos.
Isso não existe.
Por que as teorias de estilos de aprendizagem parecem corretas?
- Evidências científicas: É verdade que você pode armazenar memórias em qualquer um desses três formatos (visual, auditivo e cinestésico). Então, em certo sentido, algumas pessoas são bons pensadores visuais.
- Aceitação generalizada: Cerca de 90% dos estudantes da Universidade da Virgínia, por exemplo, aceitam essa teoria, além de professores, designers instrucionais, pais, gerentes de RH, etc.
- Interpretação ambígua: Se você já acredita na teoria, provavelmente interpretará situações ambíguas como consistentes com ela.
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O Maior Mito na Educação: Estilos de Aprendizado
Algumas pessoas acreditam ser aprendizes visuais, outras auditivas, outras ainda preferem aprender através da leitura e escrita, ou “kinestésicas” (as famosas ‘mãos à obra’). Esses são os quatro principais estilos de aprendizado, conhecidos pela sigla VARK. Mas, será que esses estilos de aprendizado realmente existem? E mais importante, se você aprender de acordo com seu estilo de aprendizado, aprenderá melhor?
Você fará o teste para descobrir seu “estilo de aprendizagem” mesmo assim?
Acredita-se que, se as informações forem apresentadas de acordo com o estilo de aprendizado do indivíduo, então o aprendizado será mais eficaz. Uma pesquisa com quase 400 professores do Reino Unido e dos Países Baixos descobriu que mais de 90% acreditavam que os indivíduos aprendem melhor quando recebem informações em seu estilo de aprendizado preferido.
No entanto, é importante questionar: esses estilos de aprendizado realmente existem? E, se existem, o ensino em conformidade com eles realmente leva a um aprendizado melhor?
Vários estudos foram realizados para investigar essa questão.
Em um experimento, os alunos foram identificados como visualizadores ou verbalizadores (ao invés de usar o termo “auditivos”) e, em seguida, foram aleatoriamente designados para passar por uma lição baseada em texto ou em imagens.
Os alunos cujo estilo de aprendizado preferido correspondia ao seu método de instrução não se saíram melhor nos testes do que aqueles cuja instrução não correspondia.
Outro estudo, realizado em 2018, envolveu mais de 400 estudantes universitários que preencheram um questionário VARK no início do semestre. No final do semestre, os mesmos estudantes preencheram um questionário sobre estratégias de estudo. Descobriu-se que a maioria dos estudantes usava estratégias de estudo supostamente incompatíveis com seu estilo de aprendizado.
Então, por que a ideia de estilos de aprendizado persiste, apesar da falta de evidências científicas sólidas?
Uma razão é que as pessoas tendem a interpretar novas experiências para se encaixar em suas crenças existentes. Se alguém já acredita que é um aprendiz visual, por exemplo, e uma explicação visual de um conceito complexo de repente “faz sentido”, essa pessoa pode interpretar isso como uma confirmação de seu estilo de aprendizado visual, mesmo que a explicação visual seja eficaz para qualquer pessoa.
Então, o que realmente melhora a aprendizagem?
Uma grande quantidade de literatura aponta que todos aprendem melhor com abordagens multimodais, onde palavras e imagens são apresentadas juntas, ao invés de palavras ou imagens isoladas. Esta é conhecida como o efeito multimídia, e explica, em parte, por que vídeos podem ser ferramentas tão poderosas para o aprendizado quando a narração complementa as imagens.
No final das contas, a coisa mais importante para o aprendizado não é a maneira como a informação é apresentada, mas a abordagem. Portanto, a informação que você recebe pode ser significativamente diferente dependendo de como você procura. E é por isso que é tão importante fazer uma pesquisa completa e aprofundada.
O que há de errado com a teoria dos estilos de aprendizagem?
- Falta de resultados experimentais: Muitas pessoas realizaram experimentos tentando provar essa teoria, mas os resultados não são consistentes com ela.
- Aprendizagem baseada em significado: A maioria do que os professores querem que os alunos aprendam não é informação visual, auditiva ou cinestésica, mas sim baseada em significado.
- Previsões incorretas: A teoria prevê que os alunos aprenderão melhor se o material for apresentado de acordo com seu estilo de aprendizagem, mas isso não é verdade em todos os casos.
O prejuízo causados pelos estilos de aprendizagem
A tentativa de categorizar seres humanos em caixas simples e convenientes gera mais problemas do que soluções. São exemplos disso não só os estilos de aprendizagem, mas também as avaliações de tipos de personalidade e gerações. Essa tendência que temos em busca de respostas fáceis e truques simplistas para gerir um determinado grupo é, no mínimo, problemática. A sedução desse método simplista é inegável, parecendo algo como a astrologia, onde cada um possui um signo, uma personalidade e comportamentos pré-definidos.
Compreendo a tentação de simplificar e categorizar, mas essa prática nos conduz a obstáculos. Uma pergunta recorrente é: ”Qual o problema, estamos apenas tentando tornar as coisas mais interessantes para as pessoas?” No entanto, há consequências danosas.
Se uma criança com um problema de aprendizagem legítimo é categorizada como cinestésica e, consequentemente, orientada a praticar esportes o dia todo ao invés de receber a ajuda adequada que necessita, isso é prejudicial.
Há prejuízo real se um empregado é preterido para uma promoção porque foi rotulado como um jovem desinteressado em manter um emprego por muito tempo porque é de tal geração.
A aplicação dos estilos de aprendizagem na educação, embora bem-intencionada, pode levar a uma série de efeitos negativos e prejuízos para os alunos e educadores. Aqui estão alguns dos principais problemas associados à aplicação desses estilos:
- Estereotipagem e limitação do potencial dos alunos: A categorização dos alunos com base em estilos de aprendizagem pode restringir seu potencial, fazendo com que acreditem que só podem aprender de uma maneira específica. Isso pode desencorajar a exploração de outras abordagens e o desenvolvimento de habilidades em áreas fora de seu estilo percebido, limitando o crescimento acadêmico e pessoal.
- Alocação inadequada de recursos: Esforços e recursos para adaptar materiais e métodos de ensino a estilos de aprendizagem específicos podem ser mal direcionados. Esses recursos poderiam ser melhor aproveitados em estratégias de ensino baseadas em evidências que demonstraram melhorar o desempenho dos alunos.
- Redução da qualidade do ensino: A tentativa de adaptar as instruções aos estilos de aprendizagem pode resultar em práticas de ensino menos eficazes. Por exemplo, fornecer apenas instruções verbais para um aluno considerado “auditivo” pode deixar de fora informações visuais importantes que seriam úteis para a compreensão do conteúdo. A aprendizagem é mais eficaz quando os educadores utilizam uma variedade de estratégias e recursos de ensino que se adaptam ao conteúdo e aos objetivos da aprendizagem.
- Ignora a natureza dinâmica da aprendizagem: A aprendizagem é um processo complexo e em constante evolução. Os alunos podem ter preferências e habilidades que mudam ao longo do tempo e em diferentes contextos. A aplicação rígida dos estilos de aprendizagem pode inibir essa evolução, restringindo o desenvolvimento de habilidades e a adaptação a novos contextos de aprendizagem.
- Desconsidera as diferenças individuais: Ao focar nos estilos de aprendizagem, os educadores podem negligenciar as diferenças individuais mais relevantes, como conhecimento prévio, habilidades, motivação e outros fatores que afetam o processo de aprendizagem. Essas diferenças devem ser levadas em conta para garantir que o ensino seja personalizado e eficaz para cada aluno.
- Criação de falsas expectativas: Ao atribuir estilos de aprendizagem aos alunos, os educadores e os próprios alunos podem desenvolver expectativas que não correspondem à realidade. Isso pode levar a frustração e desânimo se o desempenho dos alunos não melhorar conforme o esperado.
A questão não é somente sobre a ineficácia desses rótulos, mas sim sobre os danos que eles podem causar. Precisamos estar atentos a como os estereótipos e as tentativas de simplificação podem prejudicar os funcionários, nossas iniciativas e nossos próprios resultados.
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Conclusão
Embora seja verdade que algumas pessoas têm melhor memória visual ou auditiva do que outras, essa informação não é realmente importante para os professores, pois a maioria do que eles querem que os alunos aprendam é baseada em significado. Os estilos de aprendizagem podem parecer intuitivos, mas as previsões específicas da teoria e a forma como seriam aplicadas em sala de aula estão incorretas. O bom ensino é bom ensino e os professores não precisam ajustá-lo aos estilos de aprendizagem individuais dos alunos.
Portanto, ao analisar o fenômeno dos estilos de aprendizagem, torna-se claro que, embora a teoria seja atraente e intuitivamente faz sentido, a evidência científica simplesmente não a apoia. Embora seja verdade que as pessoas têm preferências e habilidades individuais, a ideia de que essas preferências se traduzem em um “estilo de aprendizado” único que é mais eficaz para cada indivíduo não é apoiada por pesquisas sólidas. Na verdade, as melhores práticas de ensino geralmente envolvem a apresentação de informações de várias maneiras diferentes, a fim de reforçar o aprendizado e acomodar as diferentes habilidades de todos os alunos, em vez de tentar se adaptar a um suposto “estilo de aprendizado” para cada aluno.
Então, o que isso significa para você, quer seja um estudante, professor, pai ou apenas alguém interessado em aprender? Significa que, em vez de tentar descobrir qual é o seu “estilo de aprendizado” e se limitar a ele, você deve tentar variar a maneira como você interage com as informações. Se você está estudando para um teste, por exemplo, tente ler o material, escrever resumos, falar sobre o assunto e fazer exercícios práticos. Dessa forma, você está envolvendo diferentes partes do cérebro e reforçando sua compreensão do material de várias maneiras.
Além disso, é importante lembrar que todos nós temos forças e fraquezas quando se trata de aprendizado. Alguns de nós podem ser mais visuais, enquanto outros podem se beneficiar de uma abordagem mais prática. Isso não significa que temos um “estilo de aprendizado” fixo, mas sim que devemos estar cientes de nossas preferências e trabalhar para melhorar áreas onde podemos ser mais fracos.
Portanto, em vez de se prender a um “estilo de aprendizado”, concentre-se em desenvolver uma gama variada de habilidades de aprendizado e em adaptar-se a diferentes tipos de material de estudo. No final, o objetivo é aprender e entender, e há muitas maneiras diferentes de se alcançar isso. E lembre-se, a chave para um aprendizado eficaz é a variedade e a prática.
Outros Mitos
Referências
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