Design Instrucional: A Abordagem Sistemática para o Desenvolvimento de Experiências de Aprendizagem

O design instrucional é uma disciplina rigorosa baseada em evidências, que surgiu após a Segunda Guerra Mundial para melhorar o treinamento de milhares de pessoas no setor militar. Porém, com o passar dos anos, o design instrucional evoluiu para além da sua origem militar e se tornou uma ferramenta valiosa para desenvolver experiências de aprendizagem sofisticadas e eficazes.

ADDIE: O Framework de Design Instrucional

A Universidade da Flórida desenvolveu o ADDIE, um termo coloquial usado para descrever uma abordagem sistemática para o desenvolvimento instrucional. Esse framework foi originalmente criado para as Forças Armadas Americanas, mas com o tempo, profissionais revisaram suas etapas, tornando-o mais dinâmico e interativo. Atualmente, o ADDIE é amplamente utilizado em todas as áreas do Design Instrucional.

ADDIE: Entendendo Por Que é um Framework e Não um Modelo

Atenção: o ADDIE é um termo amplamente utilizado no design instrucional. No entanto, muitas vezes é erroneamente referido como um “modelo”. Na verdade, ADDIE é um framework. Mas por que essa distinção é importante?

  • Um modelo é uma representação simplificada de um processo, geralmente usado como um guia para construir algo ou resolver um problema específico. Modelos são mais rígidos e prescritivos, oferecendo uma sequência específica de etapas a serem seguidas.
  • Por outro lado, um framework é uma estrutura básica, flexível e abrangente que fornece um conjunto de princípios, diretrizes ou melhores práticas para auxiliar no desenvolvimento e organização de um projeto. Frameworks são mais flexíveis e adaptáveis do que modelos, oferecendo diretrizes gerais em vez de etapas específicas.

As Etapas do ADDIE

O ADDIE é composto por cinco etapas interligadas, que garantem o sucesso dos projetos de design instrucional:

  1. Análise: É a primeira etapa, onde se faz uma análise detalhada dos objetivos, público-alvo, conteúdo e recursos necessários para o desenvolvimento da experiência de aprendizagem.
  2. Design: Nesta etapa, o design instrucional é planejado, incluindo a definição das metas e objetivos, a estruturação do conteúdo, a seleção de métodos e técnicas de ensino, além da elaboração de uma proposta de orçamento.
  3. Desenvolvimento: É a etapa onde o design instrucional é concretizado, ou seja, é desenvolvido o material instrucional, produzido o conteúdo, criados os recursos interativos e testados os protótipos.
  4. Implementação: Nesta etapa, a experiência de aprendizagem é colocada em prática, seja em um ambiente virtual ou presencial.
  5. Avaliação: Por fim, a etapa de avaliação permite ajustar e melhorar a experiência de aprendizagem com base em feedback dos usuários e resultados alcançados
graph TD;
A[Análise] --> B[Design];
B[Design] --> C[Desenvolvimento];
C[Desenvolvimento] --> D[Implementação];
D[Implementação] --> E[Avaliação];

Fase de Análise

A fase de análise esclarece os problemas e objetivos instrucionais e identifica o ambiente de aprendizagem e os conhecimentos e habilidades existentes do aluno.

O processo de fazer essas perguntas geralmente faz parte de uma análise de necessidades ainda mais ampla, portanto, é a fase mais propensa a ser apressada, malfeita e enganosa de todo o processo.

Lideranças normalmente suspeitam das análises na proporção dos problemas que revelam. Respostas e soluções para problemas errados são, também, erradas no contexto. Por isso, o designer instrucional precisa conduzir muito bem a fase de análise.

Toda fase de análise aborda certos pontos em comum, por exemplo:

  • Quem são os alunos e quais são suas características?
  • Qual é o objetivo do projeto?
  • Que tipos de restrições de aprendizagem existem?
  • Quais são as opções de entrega?
  • Quais são as considerações pedagógicas?
  • Quais teorias da aprendizagem de adultos podemos aplicar no projeto?
  • Qual é o prazo para conclusão do projeto?

A análise de necessidades começa com uma entrevista com os stakeholders. São as partes interessadas que decidem o objetivo do projeto e definem seus limites, condições e orçamento. A coleta de dados na fase de análise também fornece informações importantes e essenciais sobre o cenário encontrado pelo designer instrucional.

A análise de necessidades também é um processo porque esclarecer problemas e objetivos é um desafio em si. O designer instrucional investiga cada questão em busca de respostas. Quanto mais claras e objetivas forem as respostas do questionamento, mais eficaz é a experiência de aprendizagem.

Normalmente o designer instrucional utiliza os elementos de circunstância (também conhecido como 5W2H) para começar sua análise, principalmente para analisar os problemas que a experiência de aprendizagem precisa resolver. O designer precisa responder a essas perguntas:

  • Who was involved? (Quem estava envolvido?)
  • What happened? (O que aconteceu?)
  • Where did it take place? (Onde isso aconteceu?)
  • When did it take place? (Quando isso aconteceu?)
  • Why did that happen? (Por que isso aconteceu?)
  • How did it happen? (Como isso aconteceu?)

Os elementos de circunstância é a abordagem básica para iniciar uma investigação, mas nunca é a única porque, embora útil, o 5W2H tem suas limitações.

Por exemplo, a falta de apoio pode impedir o designer a dar a resposta certa às perguntas do tipo “por que” e identificar a causa raiz dos problemas. Também impede o designer de ir além do seu conhecimento atual, portanto ele não consegue encontrar causas que ainda não conheça.

O designer instrucional também precisa analisar o público-alvo. Quem são? Quais são suas características? O que eles têm em comum? Qual a diferença entre eles? Quantos eles são? Onde eles estão? O que eles querem? O aluno sempre é o foco do processo de aprendizagem.

Por essa razão é importante contar com os especialistas no assunto (SME) nessa fase. Eles possuem a domínio na área onde a experiência de aprendizagem será aplicada - o designer instrucional precisa ser especialista em DI. A relação entre o especialista no assunto e o designer instrucional é delicada. Cada parte deve respeitar mutualmente e seu campo de conhecimento!

O objetivo de qualquer oportunidade de aprendizado é ajudar o aluno a alcançar competências específicas em certos níveis de desempenho, e não transformar o aluno em outro especialista.

A fase de análise pode ser rápida ou muito complexa. Não existe uma fórmula certa para definir a sua duração - normalmente ela dura o tempo necessário para identificar as questões-chave ou pelo tempo que o orçamento da empresa permitir. Quanto melhor for a análise de necessidades, melhor será o desenvolvimento das próximas fases.

Fase de Design

A fase de design — ou desenho — cria a experiência de aprendizagem conforme o resultado da fase de análise. Aqui decidimos e definimos objetivos de aprendizado, métodos e atividades instrucionais (manuais, job aids, workshops, webinar, treinamentos, cursos eLearning, etc.), storyboards, conteúdo, conhecimento do assunto, esboços de lições e recursos de mídia.

Com as informações da fase de análise, agora o designer instrucional pensará em como resolver o desafio instrucional. Para isso ele deve pensar e responder uma série de questionamentos:

  • É preciso um treinamento para atingir os objetivos?
  • Esse treinamento deve ser on-line ou presencial?
  • Aliás, seria o treinamento necessário de verdade ou é dispensável?
  • Uma nova redação dos recursos já existentes na empresa, como manuais de operação ou processos, seria a resposta mais eficaz para o problema?
  • Aliás, o problema pode ser resolvido com algum recurso de aprendizagem ou é uma característica da cultura organizacional da empresa?

Infelizmente, algumas pessoas apresentam a fase de design como uma forma de projetar atividades com base no conteúdo (ou no desejo) do cliente, pulando a fase de análise.

A fase de design deve ser sistemática e específica. Sistemático significa que o designer instrucional age segundo um método para tornar eficaz a experiência de aprendizagem necessária. Específico significa que o designer indicar com precisão o plano de design instrucional com instruções minuciosas e precisas para serem executadas na próxima fase.

Assim como na fase anterior, os especialistas no assunto (SME) continuam o trabalho junto com o designer instrucional. A atenção ao detalhe é imprescindível para desenhar a aprendizagem: o conhecimento do SME sobre sua área é o que permite o designer instrucional aplicar o próprio conhecimento no projeto.

Fase de Desenvolvimento

A fase de desenvolvimento do framework ADDIE é onde os designers instrucionais produzem o conteúdo e as interações de aprendizagem descritas na fase de design. Durante esta fase, o conteúdo é escrito e gráficos, áudio ou quaisquer outros meios também são criados e montados.

Na fase de desenvolvimento, o profissional especialista na produção de conteúdo irá criar esse material, seja ele qual for.

É bom saber que muita gente confunde o papel e função do designer instrucional com o de produtor de conteúdo. Há vários tipos de conteúdo, métodos e abordagens para usarmos numa experiência de aprendizagem. Cada um deles possui as suas particularidades e os seus profissionais - pessoas que atingiram seu nível de domínio através de extensas experiências.

Na fase de desenvolvimento, o profissional especialista na produção de conteúdo irá criar esse material, seja ele texto (copywriter), vídeo (videomaker), narrações (atores de voz), etc.

Algumas empresas acreditam que o papel do designer instrucional é criar o conteúdo que a empresa quer - e fazer o conteúdo ficar bonito e moderno para a implementação. Isso é simplesmente errado.

Vários designers instrucionais se especializaram na produção de conteúdo - por exemplo, usando ferramentas como o Articulate Storyline e Rise, entre outras. A pessoa certa para o desenvolvimento do conteúdo é um profissional especializado. Ele também pode ser um designer instrucional, ou não.

Fase de Implementação

Durante a parte de implementação do framework ADDIE, o designer instrucional entrega o conteúdo e os materiais para o Learning Management Systems (LMS), diretamente para o treinador para eventos de treinamento, ou o responsável pela implementação.

O designer instrucional também fornece treinamento necessário para treinadores, facilitadores e/ou instrutores. Assim como na fase de desenvolvimento, quem conduzirá a implementação e como ela será realizada depende das soluções decididas pelo designer instrucional e a estrutura da empresa.

O importante é garantir que tudo que o aluno precise para aproveitar a experiência de aprendizagem esteja entregue e disponível para ele.

Fase de Avaliação

Durante a fase de avaliação do framework ADDIE, o designer instrucional aplica o que será o sucesso da experiência de aprendizagem e como ele será medido. Muitas vezes, a avaliação consiste em duas fases: formativa e somativa. A avaliação formativa é realizada e repetida ao longo das fases de design e desenvolvimento. Ela ocorre durante todo o ADDIE.

A avaliação somativa consiste em testes que são feitos - e/ou métricas que serão analisadas - depois da entrega da experiência de aprendizagem.

Os resultados desses testes/métricas ajudam a esclarecer para o designer instrucional e stakeholders se o treinamento atingiu ou não seus objetivos originais, delineados na fase de análise.

Em Resumo

O ADDIE é o framework mais usado em projetos de design instrucional. Enquanto framework, ele é a apresentação de forma esquemática, simplificada, de um processo de trabalho.

Porém, durante sua aplicação, ele se transforma. O ADDIE permite muito mais liberdade em relação ao uso (parcial ou total) dos modelos ou técnicas dele derivados. Por isso ele é a base de diversos outros modelos usados no design instrucional.

Conhecê-lo muito bem permite ao designer instrucional criar e realizar experiências de aprendizagens eficazes, que permitam aos alunos conseguirem sucesso em suas jornadas e às empresas atingirem seus objetivos.